quarta-feira, 5 de março de 2008

Não é tempo ( André Luiz - Convidado )





um escritor de minha idade não precisa
de muito mais para sobreviver
que uma garrafa de uísque
e uma foda
com
a namorada,
ainda depende dos pais
e esconde as latas e garrafas vazias
na ultima gaveta
do guarda roupa
é lá o esconderijo
de sua vida.

andar pelas ruas
cabisbaixo
trepar
e masturbar-se ao som de chopin
e da janela golfa
um jato de luz
como vomito
em sua cara
e
a mãe
preocupada
vem
dar-lhe conselhos,
ele finge que está doente,
tranca-se no quarto
e liga o som no mais alto,
o telefone toca
ele imagina raskolnikov,
chinaski, fausto,
riobaldo.
ele tem caganeira
e lê o romance
enquanto caga.

o suicídio é uma boa saída
para quem vive assim,
nunca se sabe,
mas quando se é jovem
o temor é mayor,
quem sabe um dia
viverei em cuba ou no uruguai?
há muito ainda para tolerar.
não é tempo,
chega de poemas tolos
aqui e agora um poema cheio de álcool,
não... não...
uma confissão.

é preciso um emprego,
uma faculdade,
um carro,
uns professores bastardos
com a barba feita
dando-lhes indicações
e qualquer
metáfora
a essa hora
da noite
soa
como uma grande mentira
e o pai da namorada
tem hálito de cebola,
fede
e torce para o são paulo,
é um cretino.

o que serei
aos
quarenta anos?
essa resposta não faz diferença
quando se tem apenas dezessete
como eu,
ainda digo besteiras
reparáveis
e acordo bêbado nas festas
pensando
neste mesmo momento
daqui a dez anos.
não importa,
na cadeia me levarão
maços de papel e cigarro
e eu beberei até cair
e minha mãe
levará bolo com café
e sorrirá do bom ambiente
pensando tudo que não foi
lembrando minhas fraldas
sujas de merda,
ela chora
e
eu não
dou bolas.


e a radio toca musica clássica
mpb
e
deus
em algum canto
acompanha-me na dose.

e esse é o maior poema que pensei em fazer,
minha odisséia.

(André Luiz)

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Sobre o Autor:


André Luiz é um escritor com estilo bastante peculiar. Mescla elementos de um regionalismo contemporâneo com um modernismo digno de ficar entre as memórias embriagadas da noss'arte.

Publica textos na comunidade do Bar do Escritor.

2 comentários:

André Rodrigues disse...

arre! grado pela publicação e inda mais pelo bendito blog. tá para lá e para cá de bom.

Jessiely Soares disse...

Arre! Gratos estamos nós, pela belezura de poema!! Desses que a gente lê de um gole só, e fica entre vinho e cachaça, porque dá um nó no juízo e uma vontade de ler mais... Beleza de Odisséia!

Sê bem vindo!

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